Na altura éramos crianças e não sabíamos do que falávamos, mas o que te escrevi nesse dia ignorantemente, poderia reescrever-te hoje com conhecimento de causa. E agora olhamos para trás e vemos todos os ossos e músculos - todos os mares de vísceras - que deixámos caídos no chão, atrás de nós, despreocupadamente abandonados, "porque não precisávamos disso para viver" - como se nos bastasse ter apenas sangue para beber - e perguntamos ao silêncio o que é que mudou. Na altura éramos assim, era "mais um menos um", era "igual ao litro", era um jogo. E dantes, mesmo sem saber, sabíamos tudo o que existia para saber. E agora só nos reconforta saber que ainda que mutilados, estamos completos. E gratos por tudo o que deixámos para trás.
Carolina