Compraram-lhe um caixão negro à última da hora, forrado por dentro com cetim vermelho e aparentemente já com o perfume dos lírios impregnado na madeira envernizada e em todo o lado.
As mulheres choraram-no de braços dados, horas a fio, enquanto ele jazia frente ao altar da pequena capela. Os homens aparentavam a quase indiferença habitual e ainda se ouviu um ou outro comentário ao jogo da noite anterior.
E ele, estava "teso que nem um carapau", imóvel e descolorado. Morto.
Ou pelo menos assim se pensou. Porque ao fim de 10 anos debaixo de terra - quando alguém decidiu reclamar as ossadas e todas essas tretas que já são costume - deram com a madeira arranhada no interior do caixão e um par de unhas cravado na tampa. Sinais de que alguém tentou sair. E não conseguiu.
Mas no final de tudo, ficou efectivamente morto. E isso é que é importante, que não se gaste dinheiro em vão.
Carolina