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Hórus é só lenda

o meu sonho tem boca - que o digam os meus ossos - tem dois olhos sobre a nuca e reza todos os dias que em todas as horas houve um tempo sem mentira. o meu anjo da guarda é uma puta de mãos compridas, maquilhagem carregada e dá na fruta, a puta barata, desvairada, escanzelada. nas veias em vez de sangue corre-lhe cicuta. ela ama-me - pelo menos diz que sim. e eu sinto o mesmo por ela. à noite fico à espera que entre pela janela. conta histórias doidas enquanto me adormece e eu sorrio: cada um tem aquilo que merece. e bebo as palavras e quase que me engasgo. são belas, perco-me nelas sem me fartar, sem quase nunca me fartar. podíamos ficar nisto o resto da noite: em lugar nenhum, no meio de um sonho, no meio de mim, no meio de ti. bebo as palavras e quase que me engasgo. são belas, perco-me nelas. uma, duas, três. "G"s. acendemos beatas, matamos baratas e arrancamos o que resta do papel de parede. vamo-lo rasgando bocado a bocado. escrevemos frases chungas com um calhau caiado. quatro cinco seis. cantamos a música dos chulos lá fora e dançamos a nossa valsa tão desengonçada. embebedamo-nos de saliva até irmos ao tapete. já são oito, nove, dez. e estamos fora de combate. MANEL CRUZ
blog? São ensaios cegos, lúcidos, físicos & metafísicos. É uma mente deteriorada e uma mão cansada. Ou incansável. Relógios parados. E sangue? (...) Mas sobretudo perda de tempo. E possivelmente mais qualquer coisa. Não sei. Incerteza também.

yeah, thanks

© 2010, Luna