Pediu que me sentasse ao seu lado na cama por fazer. Queria explicar-me não-sei-o-quê sobre o lado metafísico dos nossos movimentos. Ri-me, obviamente, na cara dele. Sempre foi assim: ele com as suas ideias disparatadas e eu com o meu cepticismo de estimação.
Desta vez vez é diferente, disse-me.
É diferente de todas as vezes, meu anjo, já estou habituada. E estava.
E continuaria a estar habituada, não tivesse ele mudado tudo com uma mão cheia de palavras. Palavras das quais nem me recordo. Talvez o ar as tenha apagado; não interessa.
Mas no fim, com aquele ar de gozo tão típico dos homens orgulhosos acrescentou: e não te esqueças de corrigir as palavras. Não percebi, tal como nunca consegui perceber nenhuma das suas metáforas estúpidas, e continuo sem perceber. Não te esqueças de corrigir as palavras sem mexer nos acentos.
E acredito, acredito piamente que teria percebido tudo (e provavelmente já não estaria aqui, agora, mas antes num qualquer sítio p'ra lá do que é físico. Se é que existe a palavra "sítio" lá), não me tivessem acordado de madrugada, para me desejar boas noites. Boas noites, ignóbil?!
Carolina