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nota a ti

às vezes isto de o meu cérebro ter que viver longe de ti entristece-me. começo a pensar na probabilidade de ter ficado sem um pedaço de córtex, consequência de uma das vezes em que me tentaste devorar. (felizmente sempre nos apercebemos a tempo de que apesar de teres lugar para mim entre os pulmões, jamais terias espaço para tudo o que eu tinha para te dizer e as tuas costelas acabariam por se partir duas a duas. quase que consigo ouvir. crac, crac.)
mas continuando. começo a pensar que se calhar uma das tuas dentadas me quebrou o crânio e depois talvez se tenha formado alguma espécie de fenda e eu tenha ficado com um nó de cérebro entalado na tal fenda. e talvez a pressão do osso tenha sido tal, que esse pedaço de cérebro se tenha desprendido do resto e caído no chão.
e eu aposto - APOSTO - que o vento o levou até uma qualquer estrada movimentada e que aí, depois de espezinhado, atropelado e quase esmagado, foi levado por um pássaro. um pássaro feio como a morte, com meia dúzia de passarinhos feios para alimentar no ninho. e eu estou em crer que esses passarinhos feios, que se alimentaram de mim, são os pais de todos os pássaros que agora existem. e estou em crer também que é por isso que agora tu não queres nada com pássaros e os pássaros não querem nada contigo. é porque o bocado que me falta, é o bocado que faria com que eu não quisesse saber de ti.

Carolina
blog? São ensaios cegos, lúcidos, físicos & metafísicos. É uma mente deteriorada e uma mão cansada. Ou incansável. Relógios parados. E sangue? (...) Mas sobretudo perda de tempo. E possivelmente mais qualquer coisa. Não sei. Incerteza também.

yeah, thanks

© 2010, Luna