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tenho mais para dizer do que para escrever

Chegas aqui convencido de que és um fantasma, capacitado de entrar pelo meu corpo adentro e controlar tudo a teu bel-prazer, como se de facto fosse possível modificar o que já estava definido antes de existires. Enganas-te se acreditas que o podes/consegues fazer. Não consegues. E não consegues porque não só não tens por onde entrar como depois não terias por onde sair: o meu umbigo não serve de nada. É óbvio que podes andar por aí a pairar - atrás de mim ou à minha frente, como queiras - que não há-de ser isso que me protege. Mentaliza-te de que nada me protege. Nada impede outro carro qualquer de atropelar-me em frente a um prédio castanho (que te é tão extremamente familiar), nada impede que uma Mãe tenha um tumor a comer-lhe as entranhas, nada impede que o coração de uma criança pare de bater repentinamente, nada impede que as pessoas deixem de morrer, nada impede que as pessoas deixem de querer matar.
É por isso que digo que não é o facto de leres/ouvires isto e aquilo que te mantém certo de que estão a acontecer coisas boas. A verdade é que já não acontecem coisas boas em lado nenhum, e o que já estava mal, pior tem ficado. Também não entendo o porquê de preferires ser um fantasma a apareceres-me como aquilo que realmente és; se é esperança de que eu não saiba de nada, eu sei. E espero que tenhas um sobrinho lindo que te preencha o que tens por preencher - sei lá - e que percebas muito tarde o que (ainda) há para perceber, como me aconteceu a mim.
As coisas morrem e nós só conseguimos olhar para tudo quando já estão podres e debaixo de terra. É verdade que não aceitei muitas coisas, mas também é verdade que não tinha que as aceitar. Sou eu, não sou tu.
Não queria que me viesses com a conversa da primeira vez, porque desculpas (para mim) não valem nada e nem creio que sentido fizesse. Queria só que me viesses com a conversa que tens na cabeça e que dissesses aquilo que tens para dizer. O depois? O que é que isso interessa?
O mal de tudo, é que pensamos nas consequências antes de pensar em como devemos agir. O Mundo é pouco espontâneo e também tu contribuis para isso, fantasma.

P.S.: tenho uma pergunta para te fazer, um dia.

Carolina
blog? São ensaios cegos, lúcidos, físicos & metafísicos. É uma mente deteriorada e uma mão cansada. Ou incansável. Relógios parados. E sangue? (...) Mas sobretudo perda de tempo. E possivelmente mais qualquer coisa. Não sei. Incerteza também.

yeah, thanks

© 2010, Luna